A interpretação da história exige
a adoção de um critério materialista, pois o motor do desenvolvimento histórico
reside nas condições econômicas concretas, e não nas convicções ideais, nas
normas jurídicas ou nas batalhas políticas. A evolução das estruturas
produtivas não se da segundo esquemas mecanicistas, mas acompanhando as leis da
dialética descobertas por Hegel (a tese,
a antítese, a síntese). Todo processo histórico possui uma identidade própria
específica, mas desenvolve no seu interior aquelas contradições que, com o
tempo, produzirão a sua superação. Logo, a dialética hegeliana deve ser
mantida, mas invertida, colocando como sujeito do movimento histórico real não
o Espírito, a Ideia, ou o Absoluto, mas o desenvolvimento da economia.
A história de todas as sociedades
que existiram até hoje é a história das lutas de classes. Homem livre e
escravo, patrício e plebeu, barão e servo, resumindo, opressor e oprimido,
estiveram em constante oposição uns contra os outros; conduziram uma luta que
por muitas vezes terminou na transformação revolucionária da sociedade inteira,
ou então com a ruína das classes em luta.
A moderna sociedade Burguesa,
nascida do declínio da sociedade feudal, não superou os conflitos de classe. A
sociedade cada vez mais se divide em dois grandes campos inimigos, em duas grandes
classes que se enfrentam diretamente: burguesia e proletariado...
A classe burguesa nasce do
interior do mundo feudal, nega-o e supera-o, dando origem à sociedade
capitalista. Mas, pela lei do devir dialético, o desenvolvimento do capitalismo
comporta o surgimento do proletariado e das contradições que produzirão a sua
superação.
O proletariado passa por diversos
graus de desenvolvimento. A luta operária nasce como protesto individual e de
grupo. A centralização das lutas operárias, favorecidas pela nova tecnologia
industrial e pela velocidade da comunicação, tende à formação de uma classe
compacta organizada em partido político, assim cresce e se torna mais poderosa.
O proletariado não tem propriedade, as suas relações com a mulher e os filhos
não têm mais nada em comum com as relações familiares burguesas; o trabalho
industrial moderno, a moderna submissão ao capital, retira dele todo caráter
nacional. A lei, a religião, a moral são para ele simplesmente preconceitos
burgueses, atrás dos quais se escondem outros tantos interesses burgueses. O
proletariado, a camada mais baixa da sociedade, não pode se levantar, não pode
se aprumar sem fazer desmoronar a superestrutura das camadas que formam a
sociedade oficial.
Todas as sociedades que existiram
até aqui se fundaram no antagonismo entre classes que oprimem e classes
oprimidas. Contudo, para poder oprimir uma classe é preciso garantir-lhe ao
menos as condições de manutenção da sua existência servil. O operário moderno,
ao contrário, em vez de elevar-se graças ao progresso da indústria, desce cada
vez mais abaixo das condições da sua classe. O operário torna-se pobre e o
pauperismo desenvolve-se ainda mais rapidamente do que a população e a riqueza.
Daí se deduz que a burguesia não é capaz de continuar por muito tempo como a
classe dirigente da sociedade. Não é capaz de dominar porque não é capaz de
garantir a existência do próprio escravo nem mesmo dentro dos limites da sua
escravidão.
A condição essencial para a
existência e o domínio da classe burguesa é a acumulação da riqueza em mãos
privadas, a formação e o crescimento do capital; a condição do capital é o
trabalho assalariado. O trabalho assalariado baseia-se exclusivamente na
concorrência dos operários entre si. O capitalismo não é capaz de manter a
sociedade unida. Sem revolução não existem possibilidades de melhoria para o
proletariado. A tendência é o empobrecimento progressivo. O proletariado nada
possui, nada tem a perder, por isso vencerá.
(Adaptado de NICOLA, Ubaldo."Antologia Ilustrada de Filosofia" 2005)
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