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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Filosofia Moderna II - Sobre o Sr. Locke


Talvez nunca tenha existido um espírito mais sensato, mais metódico, um lógico mais exato que o senhor Locke. Antes dele, grandes filósofos haviam decidido positivamente o que é a alma do homem, mas como nada sabiam sobre ela, era muito justo que todos eles tivessem opiniões diferentes. (...) Locke desenvolveu a razão humana para o homem, como um excelente anatomista explica as molas do corpo humano. Apóia-se em tudo na tocha da física; algumas vezes ousa falar afirmativamente, mas também ousa duvidar; em vez de definir de repente aquilo que não conhecemos, examina por graus aquilo que queremos conhecer. Toma uma criança no momento de seu nascimento, segue passo a passo os progressos de seu entendimento, vê o que tem em comum com os animais e o que possui acima deles, consulta particularmente seu próprio testemunho, a consciência de seu pensamento.
(...) Nosso Descartes, nascido para descobrir os erros da Antiguidade, mas para substituí-los pelos seus próprios e impelido por esse espírito sistemático que cega os maiores homens, imaginou ter demonstrado que a alma era a mesma coisa que o pensamento, como a matéria, segundo ele, é a mesma coisa que a extensão. Assegurou que se pensa sempre e que a alma vem ao corpo já provida de todas as noções metafísicas, conhecendo Deus, o espaço, o infinito, tendo todas as idéias abstratas, repleta enfim de belos conhecimentos que infelizmente esquece ao sair do ventre de sua mãe. (...) Locke diz: “deixo discutir aqueles que sabem mais do que eu se nossa alma existe antes ou depois da organização de nosso corpo; mas confesso que, na partilha, coube-me uma dessas almas grosseiras que não pensam sempre e tenho até mesmo a infelicidade de não conceber que seja mais necessário à alma pensar sempre do que ao corpo estar sempre em movimento.”
Locke, após ter arruinado as idéias inatas, após ter renunciado à vaidade de crer que se pensa sempre, estabelece que todas as nossas idéias nos vêm pelos sentidos, examina nossas idéias simples e as compostas, segue o espírito do homem em todas as suas operações,mostra como as línguas faladas são imperfeitas e como abusamos dos termos a todo momento.
Finalmente passa a considerar a extensão, ou melhor, o nada dos conhecimentos humanos. É nesse capítulo que ousa proferir modestamente as seguintes palavras: “Talvez nunca sejamos capazes de conhecer se um ser puramente material pensa ou não”(...) “Confessem pelo menos que vocês são tão ignorantes como eu, que sua imaginação nem a minha podem conceber como um corpo tem idéias; e vocês não compreendem melhor como uma substância, seja qual for, tem idéias? Não concebem a matéria nem o espírito; como ousam assegurar alguma coisa?”

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VOLTAIRE, Cartas Filosóficas, 13a carta - sobre o Sr. Locke.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

[repostagem] Eu - Deus - O mundo



Descartes se propõe a encontrar uma certeza básica, imune às dúvidas e que possa servir de base e fundamento, de ponto de partida para o processo de conhecimento, pois a racionalidade pertence à natureza humana, portanto, o homem trás dentro de si a possibilidade do conhecimento. Resta apenas encontrar um fundamento seguro para a construção do “edifício do conhecimento”.Assim assume inicialmente o ceticismo, levando-o a suas últimas conseqüências para refutá-lo. Aconselha a esvaziarmo-nos de todos os nossos conhecimentos e crenças, já que entre eles existem alguns que não são confiáveis e como não sabemos quais, examinemos todos. Nega todo conhecimento que nos chegam pelos sentidos, pois estes sempre nos enganam. Ao colocar tudo em dúvida, a única coisa que não é possível de duvidar é que se eu duvido, eu penso; o pensamento é imune à dúvida e, portanto, se eu penso, eu existo, essa é a primeira certeza da qual não podemos duvidar - a existência do pensamento. “Penso, logo existo”.Descartes acredita na existência de idéias inatas, ou seja, idéias que já nascemos com elas e que permitem um conhecimento seguro das coisas. A segunda verdade evidente para Descartes é a existência de Deus, que garante a veracidade do mundo e tudo o que nele existe, sendo a existência do mundo a terceira verdade incontestável. Deus é uma verdade incontestável porque possuimos a idéia de infinito e perfeição mesmo sendo imperfeitos e finitos, sendo assim, somente Deus que é infinito e perfeito pode ter colocado essas idéias em nós. Assegurada a existência de Deus, um Deus perfeito e infinito não iria nos enganar sobre sua criação e somente assim podemos crer na existência do mundo e tudo o que nele existe. Da existência do sujeito pensante podemos deduzir Deus como uma verdade inabalável e de Deus podemos reconhecer a veracidade de todo o mundo por que este mundo é Sua obra.

[repostagem] Francis Bacon (1561-1626)


Considerado juntamente com Descartes, um dos iniciadores do pensamento moderno teve uma grande influência defendendo uma concepção de método científico que valoriza a experiência e a experimentação. A preocupação fundamental de Bacon é com a formulação de um método que evite o erro e coloque o homem no caminho do conhecimento correto.Suas grandes contribuições à filosofia foram, sua concepção de pensamento crítico, transformando a tarefa da filosofia em libertar o homem dos preconceitos, ilusões e superstições que bloqueiam a mente humana e impedem o verdadeiro conhecimento; e a defesa de um método indutivo no conhecimento científico e de um modelo de ciência antiespeculativo e integrado com a técnica. Este novo método, baseado nas observações, permite o conhecimento do funcionamento da natureza e, observando a regularidade entre os fenômenos e estabelecendo relações entre eles, permite formular leis científicas que são generalizações indutivas. Desse modo a ciência pode progredir, e o conhecimento crescer de forma controlada e segura.“Saber é Poder”, diz Bacon, ao conhecer as leis que explicam o funcionamento da natureza, podemos fazer previsões e tentar controlá-los de modo que nos seja proveitoso. Os instrumentos técnicos, por sua vez, são extensões de nossos membros e faculdades que permitem o desenvolvimento da ciência aplicada e nos ajudam a superar nossas limitações.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Filosofia Moderna

O pensamento moderno talvez seja mais fácil de ser compreendido por nós, pelo fato de estarmos mais próximo dele do que do antigo e medieval, e por sermos ainda hoje, de certo modo herdeiros dessa tradição. Entendemos como conceito de modernidade uma ruptura com a tradição, uma oposição entre o antigo e o novo, uma valorização do novo, ideal de progresso, ênfase na individualidade e rejeição da autoridade institucional.
As grandes transformações no mundo europeu dos séculos XV e XVI como a descoberta do Novo Mundo, o surgimento de importantes núcleos urbanos em algumas regiões, principalmente na Itália, o desenvolvimento da atividade econômica, sobretudo mercantil e industrial, a valorização do homem como indivíduo, de sua livre iniciativa e de sua criatividade a noção de um espaço infinito e a visão da natureza possuindo uma “linguagem matemática” e a mudança do modelo geocêntrico para o heliocêntrico, a valorização da interpretação da mensagem divina nas escrituras pelo indivíduo e a oposição entre o antigo e o moderno, suscita a problemática cética do conflito das teorias e da ausência de critério conclusivo para a decisão sobre a validade destas teorias. Grandes foram os esforços dos filósofos modernos para resolver estes problemas. Podemos destacar nesse período, Francis Bacon que juntamente com René Descartes é considerado um dos iniciadores do pensamento moderno, por sua defesa do método experimental contra a ciência teórica e especulativa clássica, bem como por sua concepção de um pensamento crítico e do progresso da ciência e da técnica.
“A mais singular e a melhor de suas obras é aquela que hoje em dia é menos lida e a mais inútil: entendo falar de seu Novum Scientiarum Organum [1]. É o andaime com o qual se construiu a nova filosofia; e quando esse edifício foi levantado pelo menos em parte, o andaime passou a não servir para mais nada”. [2]
“O chanceler Bacon não conhecia ainda a natureza, mas conhecia e indicava todos os caminhos que levavam a ela. (...) É o pai da filosofia experimental; de todas as experiências físicas que foram feitas depois dele, não há quase nenhuma que não tenha sido indicada em seu livro. Ele próprio havia feito várias. Esse precursor da filosofia foi também um escritor elegante, um historiador, um belo intelecto. Em pouco tempo sua física experimental começou a ser cultivada simultaneamente em quase todas as partes da Europa. Era um tesouro escondido de cuja existência Bacon desconfiava e que todos os filósofos, encorajados por sua promessa, se esforçaram para desenterrar.”[3]
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[1] Novo Organon das Ciências.
[2] VOLTAIRE, Cartas Filosóficas, Sobre o Chanceler Bacon.
[3] Idem.