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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Filosofia Medieval - parte 2

O neoplatonismo, como o pensamento religioso dava grande importância aos textos, considerando as palavras escritas especial, mágicas ou mesmo divina.
Estudando os textos, os filósofos esperavam apreender a unidade oculta para a qual as palavras apontam.
Essa fixação pelos textos escritos é uma das razões pela qual os filósofos medievais prezavam tanto os filósofos antigos. Em vez de criarem filosofias radicalmente novas, eles veneravam as já escritas e estabelecidas. Assim, muitos filósofos passaram a ver a filosofia grega como divinamente inspiradas.
Filo acreditava que mesmo as palavras da Bíblia não passam de aproximações da verdade. Desse modo, ele interpretou histórias da Bíblia como metáfora das idéias platônicas. Essa maneira de interpretar a Bíblia acabou influenciando profundamente os teólogos cristãos, que procuravam nos filósofos gregos elementos que apontassem para as crenças cristãs.
Essa forma de interpretação passou a ser conhecida como alegoria. Alegoria é uma forma de escrever em que o escritor lança mão de um conjunto de coisas, geralmente figuras concretas, para representar outro conjunto de coisas ou idéias que costumam ser mais abstrata.
Plotino costuma ser considerado o primeiro filosofo neoplatônico, embora suas idéias se assemelhem em muitos aspectos às de Filo. Ele elaborou o vínculo entre a unidade divina e os objetos materiais. Ele via os objetos materiais e as formas ideais como criações divinas. Para ele, o mundo é uma espécie de obra de arte, que expressa o ser divino. Essa explicação é conhecida como teoria da emanação.
A realidade emana do Um, o ser divino, como o calor emana de um ferro quente. Como o Um é uma espécie de artista, ou criador, podemos comungar com o ser divino por meio da arte e também por meio da meditação. Se conseguirmos perder de vista a diferença entre nós e as outras coisas, poderemos experimentar o Um.
Misticismo é o nome que damos a essa idéia e prática de atingir a unidade com Deus. Isso pode ocorrer em forma de sonhos e visões ou por meio da meditação e da criação artística.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Filosofia na Idade Média - parte 1


No período final do Império Romano e no decorrer da Idade Média, Deus estava em toda parte. As pessoas estavam convencidas da existência de um Deus único, todo-poderoso e justiceiro.
A filosofia no Ocidente e no Oriente Médio foi dominada por três poderosas influências: Platão, Aristóteles e a religião.
Filósofos judeus, cristãos e muçulmanos estavam reconciliando filosofia e religião – a razão com a fé.
Aristóteles, Platão e a religião forneceram um amplo arcabouço para a maior parte das idéias filosóficas da Idade Média que perdurou até o Renascimento, quando começou a ser gradualmente substituído pela ciência moderna.
Podemos distinguir nesse período três estilos de teologia caracterizados pelo instrumental intelectual mobilizado em vista da construção teológica:
- uma teologia sob o regime da gramática (século IX)
- uma teologia sob o regime da dialética (século XII)
- uma teologia sob o regime da filosofia (século XIII)
Um dos primeiros filósofos a combinar filosofia e religião foi Filo de Alexandria, que afirmou que o Bem ideal e Deus eram a mesma coisa.
Assim, Deus é como uma mente universal e as outras formas ideais, descritas por Platão, podem ser entendidas como os “pensamentos” de Deus – que dão ordem ao mundo material para que ele possa ser entendido pelas pessoas, cujas mentes são constituídas à imagem da mente divina.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Os argumentos céticos


- A diferença entre seres vivos no que diz respeito ao prazer e à dor, ao dano e à utilidade é o primeiro argumento do qual se deduz que nenhum ser recebe as mesmas impressões dos mesmos sujeitos.
Toda espécie animal percebe o mundo com base nos tipos de órgãos dos sentidos que dispõe.

- O segundo tipo de argumento contra a verdade realça a subjetividade humana; O útil individual é sempre subjetivo. Os mesmos objetos dão origem a percepções muito diferentes, daí que nada de seguro pode ser dito sobre eles.

- A diversidade das impressões é condicionada pela diversa condição das disposições individuais; Um buquê de flores causa impressões diferentes numa garota apaixonada ou em uma recém viúva.

- Nem mesmo a condição dos loucos é contrária à natureza; por que a loucura deveria dizer respeito mais a eles do que a nós?

- A grande diversidade entre as leis e os costumes dos povos sugere a inexistência de valores universais.

- Cada povo acredita nos seus deuses e há quem acredite na providência e quem não acredite. Os egipcios embalsamam os seus mortos antes de sepultá-los, os romanos os cremam, e os peônios os jogam ao pântano.

- Mesmo noções aparentemente objetivas, como o peso, demonstram-se relativas; Uma pedra erguida no ar por duas pessoas desloca-se facilmente na água, seja por que, sendo pesada, torna-se mais leve pela água, seja por que, sendo leve, se torna mais pesada pelo ar.

- As percepções são sempre determinadas por um particular ponto de vista; O sol por causa da distância aparece pequeno, as montanhas vistas de longe, aparecem envoltas no ar e lisas, de perto, aparecem asperas e cheias de fendas.
A forma dos objetos é sempre condicionada, seja pelo ponto especifico a partir do qual o observamos seja pela posição que ocupa no espaço.

- A natureza de muitas coisas varia com a quantidade; O vinho pode ser benéfico ou maléfico, depende do quanto se bebe.

- O hábito condiciona os juízos; Os terremotos não provocam espantos naqueles junto aos quais ocorrem continuamente.

- O conhecimento utiliza conceitos relativos; O que se encontra à direita não está à direita por natureza, mas é entendido como tal, tendo em vista a posição que ocupa em relação a um outro objeto, mudada a posição, não está mais à direita. Pai e irmão são termos relativos. Esses termos e conceitos relativos, considerados em si e para si, não são cognoscíveis.

Sendo assim, devemos sempre suspender nossos juízos (epoché) sobre a verdade e acreditar na impossibilidade de chegar a um juízo inopinável, universal e indiscutível.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Ceticismo


A terceira filosofia helenistica importante, depois do estoicismo e do epicurismo, é o ceticismo. Os céticos acreditavam que não podemos conhecer a verdade. Tudo o que temos são idéias que podem ou não ser verdadeiras.

O primeiro filósofo totalmente cético foi Pirro de Élis, que ensinou que não há nada de que possamos estar seguros. Embora parta da idéia de que não podemos conhecer nada, ele se preocupa com o efeito disso sobre o modo que deveríamos agir.

O ceticismo não pretende ser apenas um meio de criticar as idéias de todos os outros filósofos, pelo contrário, pretende ajudar as pessoas a se acostumarem com o fato de que muito do que acontece está além do nosso controle. Se percebemos que na vida nada é garantido, mais facilmente nos libertaremos das expectativas em relação às coisas. Assim, não ficaremos desapontados quando elas não acontecerem como planejamos.

O ceticismo sustenta a impossibilidade de chegar a um juízo universal e indiscutível, dada a universal incerteza que envolve a natureza do mundo e do homem. Assim, nenhuma proposição pode ser afirmada sem que também seja possível encontrar provas da proposição contrária. Daí decorre que a única atitude correta a ser assumida pelo filósofo é não ter opiniões, assumindo a suspensão de qualquer discurso afirmativo (epoché).

A epoché cética é a necessária suspensão do juízo que caracteriza sua posição: nem aceitar, nem rejeitar; nem afirmar, nem negar. Ela nasce da consideração de que sempre é possível demonstrar o contrário de cada afirmação e que, portanto, uma proposição nunca pode dizer-se verdadeira em absoluto. Todo saber reduz-se a um opinável ponto de vista.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Epicuro - Pensamentos


Nenhum prazer é em si um mal, porém certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior número de males que de prazeres.

Tu, que não és senhor do teu amanhã, não adies o momento de gozar o prazer possível! Consumimos nossa vida a esperar e morremos empenhados nessa espera do prazer.

O prazer de fazer o bem, é maior do que recebê-lo.

O desejo é a causa de todos os males.

Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade.

Queres ser rico? Pois não te preocupes em aumentar os teus bens, mas sim em diminuir a tua cobiça.

É estupidez pedir aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho.

A liberdade é o maior fruto da auto-suficiência

Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades.

Nossa alma é composta de átomos, por isso é mortal como nosso corpo, nos é dado viver uma só vez. As multidões se consolam com a esperança de outra vida melhor.

domingo, 18 de outubro de 2009

Corpo e alma em Epicuro


Epicuro comparava a sua filosofia à medicina: queria ser o terapeuta do espírito, o médico da alma, o cirurgião das paixões. Assim como a medicina deve tratar o sofrimento do corpo, a filosofia trata o sofrimento da alma. “A filosofia é o fármaco mais indicado para as três patologias psíquicas mais freqüentes: o medo dos deuses, da morte, da dor”. Esse remédio é um bem universal, disponível a todos - a busca de um sadio e moderado prazer de viver.
O objetivo da vida feliz é o prazer. O prazer e a felicidade são certamente os critérios condutores do ser humano. O problema está em definir qual é o verdadeiro prazer e como otimizar o bem-estar pessoal, lembrando que a um prazer imediato corresponde muitas vezes uma dor futura. A solução mais sábia está em submeter a busca da felicidade ao juízo da razão.
A razão é capaz de encontrar o caminho da felicidade, pois a filosofia é a saúde da alma, ela é capaz de aquietar o espírito e mitigar seus sofrimentos crônicos – a angustia de viver – e pode extirpar o mal (os desejos e a insatisfação). A felicidade é o problema fundamental dos indivíduos. “É preciso meditar sobre as coisas que podem nos trazer a felicidade, porque, na verdade, tendo-a, temos tudo, se não temos, tudo fazemos para possuí-la”.
Para Epicuro, os deuses existem, mas não se ocupam dos homens. Se os deuses interviessem na vida humana, como pensa o vulgo, a consecução da felicidade não dependeria de nós. O medo da morte tampouco deveria nos afligir, pois a morte não é nada, porque quando nós existimos não existe a morte e quando existe a morte, não existimos mais.
A felicidade consiste no prazer, e o prazer verdadeiro consiste na tranqüilidade do espírito. “Quando dizemos que o prazer é o bem completo e perfeito, não nos referimos aos prazeres dos dissolutos ou dos crápulas, como acreditam alguns que não conhecem ou interpretam mal nossa doutrina, mas sim a não ter dor no corpo nem inquietação na alma. Posto que não fazem uma vida feliz nem os banquetes e festas contínuas, nem desfrutar de jovenzinhos e mulheres,mas sim, o cálculo judicioso que procure as causas de cada ato de escolha ou de recusa, que afaste as falsas opiniões das quais nascem as maiores inquietações do espírito". Portanto, é preciso eliminar os medos inúteis (dos deuses, da morte, da dor) moderar as necessidades de modo que o seu gozo não se transforme no seu contrário e, principalmente, ter como meta a tranqüilidade de espírito, a serenidade.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cicero (106 a.C.- 43 a.C.) Filósofo Estóico


"Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la."

"A nossa vida é aquilo que os nossos pensamentos fizerem dela."

"Todos os homens podem cair num erro, mas só os idiotas perseveram nele."

"Pratica cada um dos teus atos como se fosse o último da tua vida."

"Prudência é saber distinguir as coisas desejáveis das que convém evitar."

"O melhor tempero da comida é a fome."

"Quanto não ganha em tranquilidade quem não se preocupa com o que o vizinho diz, faz ou pensa, mas apenas com os seus próprios atos."

"Ninguém acredita em um mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade."

"Fica sabendo que és um deus, se é deus aquele que possui força, sentimento e memória que prevê e que domina, modera e faz mover este corpo ao qual está ligado."

"A história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos."

"A minha consciência tem mais peso pra mim do que a opinião do mundo inteiro."

"Casa sem livros, corpo sem alma."

sábado, 26 de setembro de 2009

Corpo e Alma no Estoicismo


Estóico era o nome dado aos filósofos que freqüentavam a Stoa, que em grego quer dizer Pórtico. Os filósofos do Pórtico, que se situava em Atenas, cultivavam uma doutrina que concebe que o homem deve buscar a sabedoria e a felicidade.
Em linhas gerais, o estoicismo admite ideal de perfeição para o homem, de forma que todo sábio é necessariamente feliz. De acordo com os estóicos, só a alma livre de qualquer paixão e governada apenas pela razão possui sabedoria e virtude. A alma, sendo uma emanação da mente divina, é de ordem superior e só pode ser comparada com a divindade. Por isso, quando cultivada e curada das ilusões capazes de cegá-la, alcança o alto grau de inteligência que é a razão perfeita, chamada virtude.
Partindo da perfeição da natureza de onde se deduz a racionalidade do cosmo, chega-se à perfeição do homem, que é a virtude. A virtude é então o meio e o fim que o homem deve alcançar para ser sábio e feliz.
Iniciando sua reflexão pela natureza como um todo, a razão estóica conduz sua dedução do todo para as partes, até chegar a uma, particular e especial: o homem. A natureza é o todo porque é ela que gera todas as coisas, ela é divina porque Deus é imanente a ela, confunde-se com ela. O homem ocupa lugar privilegiado no cosmo, pois a natureza o distinguiu de todos os animais, conferindo-lhe traço divino. Afinal, o traço distintivo do homem é a razão, que ele possui porque sua alma é uma emanação da mente divina. A alma humana, diferentemente dos outros animais, é racional, emana da própria Razão Universal.
O ideal estóico é o de uma transmutação íntima que transfiguraria o indivíduo inteiro em pura razão.
As ilusões, as paixões que cegam a alma, são quatro: a alegria, a tristeza, o medo e o desejo. O sábio estóico não é acometido por nenhuma paixão, porque cultivou em sua alma a apatia, a ausência de toda e qualquer paixão. Assim, é somente a alma cultivada, transfigurada em pura razão, que possui sabedoria e virtude. A Razão Universal, a razão perfeita, é a virtude mesma.
Há nessa doutrina uma profunda crença na autossuficiência da razão que, em identificação com a virtude, é infalível e inquebrantável. Por meio do correto cálculo da razão, de posse da razão perfeita, o homem dobra, erradica qualquer desejo, qualquer paixão, vício, e preserva um estado de tranqüilidade, de felicidade, que nada exterior a ele pode abalar.
Na doutrina estóica, a idéia de uma alma separada do corpo é inconcebível. Ambos são da mesma natureza, indistintamente unidos porque corpóreos. Se a alma é gerada pela natureza, se seu princípio é material, ela necessariamente é material. É devido a certa estrutura física e psíquica da alma que ela é capaz de apreender a natureza como geratriz de todas as coisas, de apreender a racionalidade do cosmo, o modo de ser de cada parte da natureza, e conhecer-se a si mesma, descobrir a virtude como seu modo de ser por excelência. A alma humana somente pode apreender a ordem do cosmo porque ela possui em si mesma a racionalidade e a materialidade desse cosmo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Corpo e Alma em Aristóteles I (Conhecimento e Intelecto)


Para Aristóteles o conhecimento nasce do assombro e da admiração, portanto é resultado do questionamento de nosso espírito sobre os dados da experiência sensível. As sensações de prazer emanam do corpo. A satisfação produzida pelas sensações visuais demonstra que o saber é tanto um prazer quanto um instinto. Pois, a visão é o mais importante dos sentidos, o que mais se assemelha ao conhecimento em si. Essa sensação, mais que qualquer outra, nos permite adquirir conhecimento e nos revela de imediato uma grande quantidade de diferenças...
Quem se encontra em um estado de incerteza e de assombro, acredita ser ignorante. E assim, os homens começaram a filosofar para livrar-se da ignorância, por um amor ao saber e não por alguma necessidade prática. Para ele, entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico existe uma continuidade: pois, ambos buscam o fim último das coisas.
O intelecto em Aristóteles surge da relação entre a alma e o corpo. Alma e corpo não são entidades separadas. A alma é “causa e princípio do corpo vivo”. Suas manifestações como coragem, doçura, temor, piedade, audácia, alegria, amor e ódio apresentam-se através do corpo. A alma coordena as funções vitais do organismo que são: sensações, afeições e atividades, sensibilidade e entendimento.
O homem é uma unidade substancial de alma e de corpo, em que a primeira cumpre as funções de forma em relação à matéria, que é constituída pelo segundo. O que caracteriza a alma humana é a racionalidade, a inteligência, o pensamento, pelo que ela é espírito. Mas a alma humana desempenha também as funções da alma sensitiva e vegetativa, sendo superior a estas. Assim, a alma humana, sendo embora uma e única, tem várias faculdades, funções, porquanto se manifesta efetivamente com atos diversos.

Corpo e Alma em Aristóteles II (O homem e as criaturas)


Algumas criaturas animadas possuem todas as faculdades, outras algumas e outras ainda, apenas uma. As faculdades da alma são: a Faculdade Nutritiva, a Faculdade Sensitiva e a Faculdade Intelectiva.
· Alma Nutritiva: que é o princípio mais básico e elementar da vida, responsável pelas funções biológicas como nutrição, crescimento e geração. É por essa faculdade que os seres vivos perpetuam suas espécies respectivas.
· Alma Sensitiva: que além de responsável pelo movimento, é também responsável pelas sensações do corpo. Aristóteles quer dizer que cada órgão dos sentidos percebe do mesmo objeto as características que são próprias de sua função.
· Alma Intelectiva (Intelecto): Dessa faculdade intelectiva, somente o Homem é dotado, pois somente ele tem a capacidade de conhecer. Aristóteles caracteriza o Intelecto como “aquela parte da alma que permite conhecer e pensar” Para explicar esse conhecimento sensível, que depois dá lugar ao inteligível, Aristóteles apresenta a teoria da abstração que procura explicar toda a estrutura do conhecimento intelectivo. No processo de abstração, a inteligência negligencia os aspectos singulares e realiza, assim, uma abstração total, retendo tão somente a forma, que é universal, pois pertence aos indivíduos indistintos.

A alma como princípio da vida e do movimento também está presente nos animais. A diferença entre o homem e os animais é uma questão de grau. O Homem é o único ser vivo que é dotado das três faculdades da alma. Faculdades Nutritivas, Sensitivas e Intelectivas. O Homem tem a capacidade de se nutrir, reproduzir, captar os objetos através dos sentidos e também é capaz de conhecer por meio do Intelecto.
As faculdades fundamentais do espírito humano são duas: teorética e prática, cognoscitiva e operativa, contemplativa e ativa. Cada uma destas, pois, se desdobra em dois graus, sensitivo e intelectivo, se se tiver presente que o homem é um animal racional, quer dizer, não é um espírito puro, mas um espírito que anima um corpo animal.
Para Aristóteles, acima do conhecimento sensível está o conhecimento inteligível, especificamente diverso do primeiro. Ele aceita a essencial distinção platônica entre sensação e pensamento, ainda que rejeite o inatismo platônico, contrapondo-lhe a concepção do intelecto como tabula rasa, sem idéias inatas. Objeto do sentido é o particular, o contingente, o mutável, o material. Objeto do intelecto é o universal, o necessário, o imutável, o imaterial, as essências, as formas das coisas e os princípios primeiros do ser, o ser absoluto. Por conseqüência, a alma humana, conhecendo o imaterial, deve ser espiritual e, quanto a tal, deve ser imperecível.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Corpo e Alma em Platão



Como podemos conhecer se a idéia não provém ou emana do conhecimento sensível?





Para responder a essa questão, Platão elabora a teoria da reminiscência, onde afirma que a alma é imortal e muda de corpo após a morte. Nessa mudança de corpo, as almas contemplam as idéias perfeitas. O conhecimento do mundo real se dá pela lembrança do mundo ideal.

Assim, Platão elabora a teoria do inatismo. A alma recupera a idéia perfeita antes de encarnar; Adquirimos o conhecimento antes de nascer e o carregamos conosco ao nascer (...) por que o saber é isso: adquirido um conhecimento, conservá-lo e não esquecê-lo.

A ignorância é importante para a sabedoria, pois a pessoa que se considera ignorante sobre algo, não que ela seja "burra", mas sim, que tem humildade para buscar conhecimento, saber, ter curiosidade para cada vez aprender mais.

A alma é o sopro vital, presente em todos os seres. É definida como aquela que tem capacidade de mover por si mesma. Está dividida em três partes: a racional, localizada no cérebro - o ímpeto, localizado no peito e os apetites localizado no ventre.
Morrer para o filosofo é libertar-se do cárcere do corpo.

O corpo como túmulo da alma, significa que o corpo e a alma são duas existências distintas. Uma existência aparente (corpo) e uma existência real (alma). O inteligível (alma) é capaz de conhecer por meio das reminiscências, e o sensível (corpo) participa do inteligível.
Há uma separação entre corpo e alma, sendo o homem um misto, e não uma unidade desses dois aspectos. O aparente se altera, morre e o inteligível permanece, pois é uma realidade estável.


Pensar sobre o corpo exige pensar sobre a existência, sobre a aparência, sobre a vida e a morte, sobre a finitude, sobre o tempo, sobre o sensível e o invisível.
Para o filósofo, o corpo está sujeito aos males da condição humana, sobre a qual se impõe a natureza, devendo portanto, obedecer à alma e serví-la pois, o corpo é ininteligível, multiforme, dissolúvel e jamais igual a si mesmo. Já a alma é inteligível, estável e imortal, devendo pois comandar e dirigir.
Segundo Platão, o corpo é um obstáculo para a alma que busca a verdade.

O material (corpo) é modelado, é o que recebe a essência ou forma divina, se altera e se destrói. Essa alteração é como uma resistência à informação divina, o que justifica sua destruição e morte.

"Ora, a alma pensa melhor quando não tem nada disso a perturbá-la; nem a vista, nem o ouvido, nem a dor, nem prazer de espécie alguma, e concentrada em si mesma, dispensa a companhia do corpo, evitando qualquer comércio com ele, e esforça-se por apreender a verdade." (Fédon)

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adaptado de "Filosofia Ciência & Vida", n. 37

sábado, 29 de agosto de 2009

Razão e Política




É no plano político que a Razão primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se.
A experiência social pôde tornar-se entre os gregos o objeto de uma reflexão positiva por que se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. Assim se destacou e se definiu um pensamento propriamente político, exterior à religião, com seus conceitos, vocabulário, princípios,e suas vistas teóricas.

Para o grego, o homem não se separa do cidadão e a reflexão é o privilégio dos homens livres que exercem correlativamente sua razão e seus direitos cívicos. Os gregos acrescentam assim uma nova dimensão à história do pensamento humano. Para resolver as dificuldades teóricas, a filosofia teve de forjar para si uma linguagem, elaborar seus conceitos, edificar uma lógica, construir sua própria racionalidade.

Os filósofos se questionam sobre a natureza do Ser e do Saber e quais são suas relações. Para o pensamento grego o mundo social deve estar sujeito ao número e à medida. Por isso a Razão se desenvolveu através de técnicas que dão meios para o domínio de outrem e cujo instrumento comum é a linguagem. Este pensamento marcou o homem antigo porque caracteriza uma civilização que não deixou de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana.

A Razão grega é a que de maneira positiva, refletida, metódica, permite agir sobre os homens, não transformar a natureza.
Dentro de seus limites como em suas inovações, a Razão é filha da cidade.

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adaptado de "As Origens do Pensamento Grego" J. P. Vernant

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

20 anos sem Raul Seixas


Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher,
A mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?


Vou te encontrar
Vestida de cetim
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo
Mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo Morte,
Morte, morte que talvez
Seja o segredo desta vida



Qual será a forma da minha morte
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas... um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal-aplicada
A vida mal-vivida
A ferida mal curada
A dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido
Ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota num dia de sol
A cabeça no meio-fio
Oh morte, tu que és tão forte
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com a tua mais bela roupa
Quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado
E que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem
E nos meus filhos
Na palavra rude que eu disse para alguém
Que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber
Aquela noite...



terça-feira, 11 de agosto de 2009

11 de agosto - Dia do Estudante



Paga mal a um mestre aquele que continua sempre discípulo.




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F. Nietzsche

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Idiota (F. Dostoiévisk)


- Será que realmente se pode ser infeliz? Oh, o que são a minha mágoa e a minha desgraça se eu estou em condição de ser feliz? Sabem, eu não compreendo como se pode passar ao lado de uma árvore e não ficar feliz por vê-la! Conversar com uma pessoa e não se sentir feliz por amá-la! Oh, eu apenas não sei exprimir... mas, a cada passo, quantas coisas maravilhosas existem, que até o mais desconcertado dos homens as acha belas? Olhem para uma criança, olhem para a alvorada de Deus, olhem para a relva do jeito que cresce, olhem para os olhos que os olham e os amam...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Diálogo


A.
- Estava eu doente? Agora estou são?
Quem foi o meu médico?
Como pude esquecer tudo!

B.
- Agora sim, creio que está são:
Pois sadio é quem esquece.
A.
- Ele para e escuta: o que o perturba?
Que coisa lhe zumbe aos ouvidos?
Que foi que o atingiu?
B.
- Como todos os que usam grilhões,
Em toda parte ele ouve - grilhões a tinir.

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F. Nietzsche - A Gaia Ciência

terça-feira, 28 de julho de 2009

Relações Causais em Aristóteles


Para exemplificar as relações causais, Aristóteles serve-se da estátua de uma deusa:
A causa formal é o modelo que serve para dar forma à estátua. A causa material é a matéria de que é feita a estátua, por ex. o bronze ou o mármore. Assim, uma determinada quantidade de matéria recebe a forma de uma estátua. Podemos ter a mesma forma, a estátua, e diferentes matérias, bronze, gesso, mármore, etc., assim como a mesma matéria pode se encontrar em diferentes formas: o mármore na estátua, na pedreira, numa coluna, etc.
A causa eficiente é o que faz com que a matéria adquira uma determinada forma, em nosso exemplo o escultor com suas ferramentas, que dá ao mármore a forma de estátua. A causa final caracteriza o objetivo ou propósito da estátua: o culto, a decoração, uma homenagem, etc.

Para o filosofo, o objetivo do saber é o estabelecimento de normas e critérios da boa forma de agir, isto é, da ação correta e eficaz.
“Nosso objetivo é tornar-nos homens bons, ou alcançar o grau mais elevado do bem humano. Este bem é a felicidade; e a felicidade consiste na atividade da alma de acordo com a virtude”. O homem virtuoso deve conhecer o ponto médio, a justa medida das coisas, e agir de forma equilibrada de acordo com a prudência ou moderação, que pode ser entendida como a própria caracterização do saber prático.

sábado, 18 de julho de 2009

Fiódor Dostoiévski


...Quando olho para o passado e compreendo quanto tempo perdi em vão, quanto perdi com equívocos, com erros, na ociosidade, na inabilidade para viver, como deixei de apreciá-lo, quantas vezes pequei contra meu coração e minha alma, meu coração se põe a sangrar.
A vida é uma dádiva, a vida é uma felicidade, cada minuto poderia ser uma eternidade de felicidade.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Aristóteles


Discípulo de Platão, propõe outra resposta ao problema de seu mestre. Para ele este é o único mundo que existe e, somente pela experiência é que podemos conhecer as coisas. Ele respeita a dualidade de um mundo inteligível oposto ao mundo sensível, mas diz que o mundo sensível é o único mundo que existe e que o outro (inteligível) não é um mundo à parte, e sim os instrumentos intelectuais necessários à sua inteligibilidade. As condições de inteligibilidade não são sensíveis, e neste sentido estão separadas do conteúdo imediato da experiência, mas somente desempenham a função de conferir inteligibilidade ao sensível se estiverem junto dele, sempre ligadas ao conteúdo que devem determinar. Para isso postula as categorias, elementos lógicos de determinação e articulação, que são:
a) Substância: determinação principal, fundamental que nos permite discernir nas coisas aquilo que elas essencialmente são;
b) Acidente: que se referem à substância e a integram, mas não de modo necessário. Representam os vários sentidos que se pode dizer daquilo que é; podem ser assim separadas: qualidade; quantidade; lugar; tempo; ação; paixão; relação.

Aristóteles afirma que conhecer é conhecer pelas causas e supõe a articulação entre causa e efeito segundo quatro modalidades:
1) A causa formal: essência inteligível determinante da coisa;
2) A causa material: a matéria da qual algo é feito;
3) A causa eficiente: o agente que produz a coisa;
4) A causa final: aquilo em vista de que a coisa existe, sua finalidade.

Para Aristóteles para que uma coisa exista, a matéria deve receber uma forma que a determine especificamente. É preciso que as duas se juntem para que um ente real venha a ser. Para entender como essa união acontece, o filósofo afirma um outro par de noções:
potência – a pura receptividade material; e
ato – a atualização do que estava apenas em potência.
Essa relação é essencial para compreendermos como as coisas vêm a ser, já que se trata de um processo. A cada vez que um conhecimento se dá identifico na coisa a forma que define e especifica a matéria e o ato que tornou a realidade efetiva.
Assim ele distingue a dualidade do real sem precisar dividir a realidade.

sábado, 27 de junho de 2009

Sócrates e Platão

Sócrates:
Filósofo grego que tornou-se um marco na filosofia antiga a ponto de dividir a própria história da filosofia em pré-socráticos e socráticos, tornou-se célebre por sua frase “Só sei que nada sei!”. Pode dizer assim que o fato de não saber abre a experiência para o novo, para a investigação daquilo que já imaginávamos saber com uma nova disposição de espírito para conhecer a verdade daquilo que investigamos.
Assim pode Sócrates propor a suspensão de nossos pré-conceitos e pré-juízos para compreender através da reflexão todos os objetos apresentados à nossa percepção:
Platão:
Discípulo de Sócrates, Platão considera o conhecimento uma lembrança das idéias perfeitas que a alma conheceu no Mundo das Idéias. Para ele, tudo o que podemos conhecer são cópias imperfeitas, que existem neste Mundo das Aparências, das idéias perfeitas que conhecemos naquele outro mundo. Assim, para Platão, o conhecimento é memória, lembrança. Somente através da reflexão, do pensamento, das idéias podemos conhecer as coisas. Platão postula a existência de dois mundos distintos para explicar o conhecimento:
- O mundo das idéias;

- O mundo das aparências.

Platão, com sua teoria dos dois mundos, tenta explicar que podemos conhecer apenas pelo pensamento que se lembra das formas perfeitas do mundo das idéias e que os nossos sentidos percebem apenas as aparências, as sombras imperfeitas daquele mundo onde reside a verdade. Em Platão o Bem, o Belo e o Verdadeiro se igualam no Mundo das Idéias e isso constitui o Divino. A Justiça é essa realização (Bem = Belo = Verdade) e depende da distinção entre o inteligível e o sensível para que se alcance a Verdade.