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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

David Hume (1711-1776) e o Entendimento Humano

Nascido a 7 de maio de 1711 na Escócia, David Hume foi um filósofo empirista quanto ao problema da origem do conhecimento, cético em relação à metafísica e utilitário altruísta em assuntos morais e políticos. Concebeu a filosofia como ciência indutiva da natureza humana e chegou à conclusão de que o homem é muito mais prático e sensitivo do que racional. Ele queria desenvolver uma ciência da mente e da natureza humana tão coerente e confiável como a física praticada por Newton e seus contemporâneos.
Baseado em analogias observadas entre os processos físicos e mentais, ele propõe uma nova visão de como as impressões sensoriais se reúnem para formar idéias.
As impressões sensoriais, afirma Hume, reúnem-se em nossas mentes se forem semelhantes umas às outras ou se as experimentarmos conjuntamente. Em outras palavras, elas se reúnem em nossas mentes por associações. Esse associacionismo de Hume baseia-se em uma visão empírica do entendimento, mas ao mesmo tempo nos afasta co conhecimento empírico: Aquilo que conhecemos é formado com base em semelhanças e coincidências, e essas relações não são tão confiáveis quanto às leis científicas formuladas por Newton.
Parte do problema, disse Hume, deve-se à diferença entre fatos e razão. Fatos são apenas fatos. Você não pode usá-los para dizer algo seguro sobre outros fatos. Além disso, eles não são logicamente necessários. Não temos como saber se o que existe tem de existir ou se algo diferente poderia ter existido com a mesma facilidade.
Por outro lado, existem conexões lógicas que podemos estabelecer entre idéias. Mesmo assim, essas conexões informam apenas sobre as relações, não sobre os fatos. Isso significa que fatos e relações lógicas estão separados como as pontas de uma forquilha. Podemos associá-los em nossas mentes, mas são coisas diferentes. Fatos acidentais e relações lógicas não podem se unir para informar ao certo o que é a realidade. Tudoo que podemos fazer é levantar hipóteses.
Hume afirmou que tendemos a acreditar que as coisas têm causas, mas não é possível saber quais coisas em particular causam outras. Porque formamos crenças sobre causas baseadas em associações que fizemos. Essas associações não nos informam como as coisas realmente acontecem. Pelo contrário, elas refletem a maneira como nossos instintos naturais, hábitos e convenções sociais formaram nossa crença sobre o mundo.
Hume afirmou que a experiência, embora seja a nossa única fonte de conhecimento, não pode nos informar muita coisa sobre a realidade. Assim, a maioria das crenças baseia-se no hábito, na convenção e na natureza humana. De forma semelhante, as ações das pessoas em si não são boas ou más, mas produzem juízos de valor dentro de nós. Todas as ações são apenas fatos, e esse fato faz as pessoas julgarem o fato como bom ou mal. Essa tendência a julgar faz parte da natureza humana. Está dentro de nós e não no evento ao qual reagimos. Assim, nossas ações, e em grande parte, nossas crenças são determinadas mais pelo desejo que pela razão.
Nas palavras de Hume: “A beleza das coisas existe nas mentes que as contemplam.”
David Hume morre em 25 de agosto de 1776.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Filosofia Moderna II - Sobre o Sr. Locke


Talvez nunca tenha existido um espírito mais sensato, mais metódico, um lógico mais exato que o senhor Locke. Antes dele, grandes filósofos haviam decidido positivamente o que é a alma do homem, mas como nada sabiam sobre ela, era muito justo que todos eles tivessem opiniões diferentes. (...) Locke desenvolveu a razão humana para o homem, como um excelente anatomista explica as molas do corpo humano. Apóia-se em tudo na tocha da física; algumas vezes ousa falar afirmativamente, mas também ousa duvidar; em vez de definir de repente aquilo que não conhecemos, examina por graus aquilo que queremos conhecer. Toma uma criança no momento de seu nascimento, segue passo a passo os progressos de seu entendimento, vê o que tem em comum com os animais e o que possui acima deles, consulta particularmente seu próprio testemunho, a consciência de seu pensamento.
(...) Nosso Descartes, nascido para descobrir os erros da Antiguidade, mas para substituí-los pelos seus próprios e impelido por esse espírito sistemático que cega os maiores homens, imaginou ter demonstrado que a alma era a mesma coisa que o pensamento, como a matéria, segundo ele, é a mesma coisa que a extensão. Assegurou que se pensa sempre e que a alma vem ao corpo já provida de todas as noções metafísicas, conhecendo Deus, o espaço, o infinito, tendo todas as idéias abstratas, repleta enfim de belos conhecimentos que infelizmente esquece ao sair do ventre de sua mãe. (...) Locke diz: “deixo discutir aqueles que sabem mais do que eu se nossa alma existe antes ou depois da organização de nosso corpo; mas confesso que, na partilha, coube-me uma dessas almas grosseiras que não pensam sempre e tenho até mesmo a infelicidade de não conceber que seja mais necessário à alma pensar sempre do que ao corpo estar sempre em movimento.”
Locke, após ter arruinado as idéias inatas, após ter renunciado à vaidade de crer que se pensa sempre, estabelece que todas as nossas idéias nos vêm pelos sentidos, examina nossas idéias simples e as compostas, segue o espírito do homem em todas as suas operações,mostra como as línguas faladas são imperfeitas e como abusamos dos termos a todo momento.
Finalmente passa a considerar a extensão, ou melhor, o nada dos conhecimentos humanos. É nesse capítulo que ousa proferir modestamente as seguintes palavras: “Talvez nunca sejamos capazes de conhecer se um ser puramente material pensa ou não”(...) “Confessem pelo menos que vocês são tão ignorantes como eu, que sua imaginação nem a minha podem conceber como um corpo tem idéias; e vocês não compreendem melhor como uma substância, seja qual for, tem idéias? Não concebem a matéria nem o espírito; como ousam assegurar alguma coisa?”

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VOLTAIRE, Cartas Filosóficas, 13a carta - sobre o Sr. Locke.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

[repostagem] Eu - Deus - O mundo



Descartes se propõe a encontrar uma certeza básica, imune às dúvidas e que possa servir de base e fundamento, de ponto de partida para o processo de conhecimento, pois a racionalidade pertence à natureza humana, portanto, o homem trás dentro de si a possibilidade do conhecimento. Resta apenas encontrar um fundamento seguro para a construção do “edifício do conhecimento”.Assim assume inicialmente o ceticismo, levando-o a suas últimas conseqüências para refutá-lo. Aconselha a esvaziarmo-nos de todos os nossos conhecimentos e crenças, já que entre eles existem alguns que não são confiáveis e como não sabemos quais, examinemos todos. Nega todo conhecimento que nos chegam pelos sentidos, pois estes sempre nos enganam. Ao colocar tudo em dúvida, a única coisa que não é possível de duvidar é que se eu duvido, eu penso; o pensamento é imune à dúvida e, portanto, se eu penso, eu existo, essa é a primeira certeza da qual não podemos duvidar - a existência do pensamento. “Penso, logo existo”.Descartes acredita na existência de idéias inatas, ou seja, idéias que já nascemos com elas e que permitem um conhecimento seguro das coisas. A segunda verdade evidente para Descartes é a existência de Deus, que garante a veracidade do mundo e tudo o que nele existe, sendo a existência do mundo a terceira verdade incontestável. Deus é uma verdade incontestável porque possuimos a idéia de infinito e perfeição mesmo sendo imperfeitos e finitos, sendo assim, somente Deus que é infinito e perfeito pode ter colocado essas idéias em nós. Assegurada a existência de Deus, um Deus perfeito e infinito não iria nos enganar sobre sua criação e somente assim podemos crer na existência do mundo e tudo o que nele existe. Da existência do sujeito pensante podemos deduzir Deus como uma verdade inabalável e de Deus podemos reconhecer a veracidade de todo o mundo por que este mundo é Sua obra.

[repostagem] Francis Bacon (1561-1626)


Considerado juntamente com Descartes, um dos iniciadores do pensamento moderno teve uma grande influência defendendo uma concepção de método científico que valoriza a experiência e a experimentação. A preocupação fundamental de Bacon é com a formulação de um método que evite o erro e coloque o homem no caminho do conhecimento correto.Suas grandes contribuições à filosofia foram, sua concepção de pensamento crítico, transformando a tarefa da filosofia em libertar o homem dos preconceitos, ilusões e superstições que bloqueiam a mente humana e impedem o verdadeiro conhecimento; e a defesa de um método indutivo no conhecimento científico e de um modelo de ciência antiespeculativo e integrado com a técnica. Este novo método, baseado nas observações, permite o conhecimento do funcionamento da natureza e, observando a regularidade entre os fenômenos e estabelecendo relações entre eles, permite formular leis científicas que são generalizações indutivas. Desse modo a ciência pode progredir, e o conhecimento crescer de forma controlada e segura.“Saber é Poder”, diz Bacon, ao conhecer as leis que explicam o funcionamento da natureza, podemos fazer previsões e tentar controlá-los de modo que nos seja proveitoso. Os instrumentos técnicos, por sua vez, são extensões de nossos membros e faculdades que permitem o desenvolvimento da ciência aplicada e nos ajudam a superar nossas limitações.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Filosofia Moderna

O pensamento moderno talvez seja mais fácil de ser compreendido por nós, pelo fato de estarmos mais próximo dele do que do antigo e medieval, e por sermos ainda hoje, de certo modo herdeiros dessa tradição. Entendemos como conceito de modernidade uma ruptura com a tradição, uma oposição entre o antigo e o novo, uma valorização do novo, ideal de progresso, ênfase na individualidade e rejeição da autoridade institucional.
As grandes transformações no mundo europeu dos séculos XV e XVI como a descoberta do Novo Mundo, o surgimento de importantes núcleos urbanos em algumas regiões, principalmente na Itália, o desenvolvimento da atividade econômica, sobretudo mercantil e industrial, a valorização do homem como indivíduo, de sua livre iniciativa e de sua criatividade a noção de um espaço infinito e a visão da natureza possuindo uma “linguagem matemática” e a mudança do modelo geocêntrico para o heliocêntrico, a valorização da interpretação da mensagem divina nas escrituras pelo indivíduo e a oposição entre o antigo e o moderno, suscita a problemática cética do conflito das teorias e da ausência de critério conclusivo para a decisão sobre a validade destas teorias. Grandes foram os esforços dos filósofos modernos para resolver estes problemas. Podemos destacar nesse período, Francis Bacon que juntamente com René Descartes é considerado um dos iniciadores do pensamento moderno, por sua defesa do método experimental contra a ciência teórica e especulativa clássica, bem como por sua concepção de um pensamento crítico e do progresso da ciência e da técnica.
“A mais singular e a melhor de suas obras é aquela que hoje em dia é menos lida e a mais inútil: entendo falar de seu Novum Scientiarum Organum [1]. É o andaime com o qual se construiu a nova filosofia; e quando esse edifício foi levantado pelo menos em parte, o andaime passou a não servir para mais nada”. [2]
“O chanceler Bacon não conhecia ainda a natureza, mas conhecia e indicava todos os caminhos que levavam a ela. (...) É o pai da filosofia experimental; de todas as experiências físicas que foram feitas depois dele, não há quase nenhuma que não tenha sido indicada em seu livro. Ele próprio havia feito várias. Esse precursor da filosofia foi também um escritor elegante, um historiador, um belo intelecto. Em pouco tempo sua física experimental começou a ser cultivada simultaneamente em quase todas as partes da Europa. Era um tesouro escondido de cuja existência Bacon desconfiava e que todos os filósofos, encorajados por sua promessa, se esforçaram para desenterrar.”[3]
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[1] Novo Organon das Ciências.
[2] VOLTAIRE, Cartas Filosóficas, Sobre o Chanceler Bacon.
[3] Idem.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Os Grandes Descobrimentos


Por último, mas não menos importante, falaremos dos grandes descobrimentos nos séculos XIV e XV para fechar essa idéia de Renascimento. Para levar a cabo tão ousado empreendimento, os europeus tiveram que mudar suas idéias de como era o mundo – redondo, ao invés de plano e terminando em enormes e inexplorados abismos cheios de monstros – e com o Sol no centro do universo (Heliocentrismo) e não mais a Terra (Geocentrismo). Para isso o desenvolvimento de uma nova ciência foi fundamental.
As mudanças econômicas também aconteceram uma vez que, descoberta a América, grande quantidade de ouro, prata e pedras preciosas chegavam à Europa nos navios vindos do Novo Mundo. Mas a maior mudança foi na concepção do homem, uma vez que aqueles povos do outro lado do Atlântico eram tão diferentes do homem europeu.
Assim fala Montaigne (1533-1592) filósofo francês do período sobre esses povos:
“Essa descoberta de um imenso país parece de grande alcance e presta-se a grandes reflexões (...) não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra (...) Esses povos não me parecem, pois, merecer o qualificativo de selvagens somente por não terem sido senão muito pouco modificados pela ingerência do espírito humano e não haverem quase nada perdido de sua simplicidade primitiva. (...) Ninguém concebeu jamais uma simplicidade natural elevada a um tal grau, nem ninguém jamais acreditou pudesse a sociedade subsistir com tão poucos artifícios. É um país onde não há comércio de qualquer natureza, nem literatura, nem matemáticas; onde não se conhece sequer de nome um magistrado, onde não existe hierarquia política, nem domesticidade, nem ricos, nem pobres. Contratos, sucessão e partilhas aí são desconhecidos; em matéria de trabalho só sabem da ociosidade; o respeito aos parentes é o mesmo que dedicam a todos; (...) tratam-se mutuamente por irmãos quando são da mesma idade, e aos mais jovens chamam filhos e pais aos velhos, indistintamente. Quando morrem estes, passam seus bens aos herdeiros naturais; as heranças não são divididas, conservando todos os participantes a posse do todo. O vestuário, a agricultura e o trabalho dos metais, ignoram”.
Montaigne ainda continua: “A região em que habitam esses povos é de resto muito agradável. O clima é temperado a ponto de, segundo minhas testemunhas, raramente se encontrar um enfermo. Afirmaram mesmo nunca terem visto algum epilético, remeloso, desdentado ou curvado pela idade. (...) Têm peixes e carne em abundância, e de excelente qualidade, contentando-se com os grelhar para os comer. O primeiro indivíduo que viram à cavalo inspirou-lhes tal pavor que embora já houvessem estado com ele de outras feitas, o mataram a flechadas e só então o reconheceram. Suas residências constituem-se de barracões com capacidade para duzentas ou trezentas pessoas, e são edificadas com troncos e galhos de grandes árvores enfiadas no solo e se apoiando uns nos outros na cumeada, à semelhança de certos celeiros nossos cujos tetos descem até o chão fechando os lados. Possuem madeiras tão duras que com ela fabricam espadas e espetos para grelhar os alimentos. Seus leitos, formados de cordinhas de algodão, suspendem-se ao teto. Cada qual tem o seu, dormindo as mulheres separadas dos maridos. Levantam-se com o sol e logo merendam, não fazendo outra refeição durante o resto do dia. (...) Em lugar de pão, comem uma substância branca parecida com o coentro cozido. Experimentei, é doce e algo insosso. Passam o dia a dançar; os jovens vão à caça de grandes animais contra os quais usam o arco unicamente. Enquanto isso, uma parte das mulheres diverte-se com preparar a bebida, o que constitui sua principal ocupação.
Todas as manhãs, antes que iniciem a refeição, um ancião percorre o barracão, que tem uns cem passos de comprimento, e prega aos ocupantes sem cessar as mesmas coisas: valentia diante do inimigo e amizade a suas mulheres. Acreditam na imortalidade da alma. As que mereceram aprovação dos deuses alojam-se no céu do lado do nascente, as amaldiçoadas do lado do poente. Sua moral resume-se em dois pontos: valentia na guerra e afeição por suas mulheres. (...) Os homens têm várias mulheres, em tanto maior número quanto mais famosos e valentes.
Esses povos guerreiam os que se encontram além das montanhas. Fazem-no inteiramente nus, tendo por armas apenas seus arcos e espadas de madeira, pontiagudas como as nossas lanças, e ignoram a fuga e o medo. Como troféu traz cada qual a cabeça do inimigo trucidado, a qual penduram à entrada de suas residências. Se entrarem em guerra e saírem vitoriosos, o benefício de sua vitória consiste em unicamente na glória que auferem dela e na vantagem de se terem mostrado superiores em valentia e coragem. Aos prisioneiros não se exige senão que se confessem vencidos. Mas não se encontra um só que não prefira a morte a confessar-se vencido. Nenhum que não prefira ser morto e comido a pedir mercê. Por certo em relação a nós são realmente selvagens, pois entre suas maneiras e as nossas há tão grande diferença que ou eles são os selvagens ou nós o somos.”[1]
Podemos ver por este relato que o homem americano causou tanto estranhamento na Europa que coloca em crise toda a sociedade da época. Se o filósofo vê nesse povo motivo para novas reflexões, os padres verão no Novo Mundo um enorme canteiro de almas inocentes para serem salvas pela palavra de Deus que aqueles ainda não conheciam. Os Jesuítas vêem para a América catequizar os índios, mas a Europa já não era mais a mesma. Uma nova ciência, uma nova arte, uma nova religião, uma nova política, uma nova sociedade, e o retorno da velha pergunta: Quem sou eu? O selvagem do outro lado do Atlântico fez o europeu olhar para si mesmo e voltar a procurar por um fundamento seguro para seu conhecimento e forma de ser no mundo.


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[1] MONTAIGNE, Michel de. “Ensaios” Dos Canibais.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Galileu Galilei (1564 - 1642)


Galileu Galilei nasceu em 15 de Fevereiro de 1564 na cidade de Pisa, Itália. Com apenas 17 anos ingressou na Universidade de Pisa, para estudar Medicina, onde permaneceu durante quatro anos, tendo abandonado esse curso para se dedicar ao estudo da física, da astronomia e da matemática.
Aos 25 anos foi nomeado professor de Matemática da Universidade de Pisa e em 1592 tornou-se professor na Universidade de Pádua, onde permaneceu até aos 43 anos e efetuou diversas descobertas. Algumas das descobertas mais importantes são as leis do pêndulo e a lei da queda dos graves. Entre as suas invenções contam-se a do termoscópio e do telescópio.
No início do século XVII surgiram os primeiros telescópios na Holanda. Galilleu desenvolveu/aperfeiçoou o seu próprio telescópio e foi o primeiro a observar as manchas solares, os quatro principais satélites de Júpiter e as fases de Vênus.
Galileu foi o primeiro a fazer uso científico do telescópio. Ao fazer observações astronômicas com ele, descobriu que a Via Láctea é composta de miríades de estrelas (e não era uma "emanação" como se pensava até essa época), descobriu ainda os satélites de Júpiter, as montanhas e crateras da Lua. Todas essas descobertas foram feitas em março de 1610 e comunicadas ao mundo no livro Sidereus Nuncius ("O Mensageiro das Estrelas"), manuscrito que causou sensação pela Europa inteira nos anos seguintes. Baseado no princípio do telescópio, começou a produzir os primeiros microscópios. A observação dos satélites de Júpiter, levaram-no a defender o sistema heliocêntrico de Copérnico.
Em 1632, Galileu publicou “Dialogo Sopra i Due Massimi Sistemi del Mondo”, onde produzia uma conversa entre três personagens: Salviati, Sagredo e Simplicius. Nesta obra, Galileu afirmou que a terra girava em torno do sol, o que contrariava a teoria aceite e defendida pela Igreja Católica. Os Diálogos foram proibidos e Galileu foi interrogado diversas vezes, mas apesar das ameaças de tortura, Galileu manteve as suas convicções sobre a teoria heliocêntrica, que segundo o Santo Ofício de Roma, era incompatível com a Sagrada Escritura. Galileu foi obrigado a negar a publicamente a teoria copernicana e condenado a viver em prisão domiciliária em Arcetri, onde escreveu as obras "Discorsi", "dimonstrazioni matematiche intorno a due nuove scienze", "Aattinenti alla meccanica" e "I movimenti locali", que foram secretamente publicadas na Holanda em 1638.
Diz a lenda que, quando foi julgado por heresia, em 1633, e forçado a rejeitar a sua crença de que a Terra se movia à volta do Sol, Galileu teria murmurado: "Eppur si muove" ("No entanto move-se"). Morreu em 8 de Janeiro de 1642 em Arcetri, completamente cego.
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"A filosofia está escrita neste grande livro - O Universo - que permanece continuamente aberto".
"A matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o Universo".
"Você não pode ensinar nada a um homem.
Pode apenas auxiliá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo".
Galileu Galilei

sábado, 17 de julho de 2010

Johannes Kepler (1571-1630)


Johannes Kepler foi um astrônomo e filósofo alemão que ficou famoso por formular e verificar as três leis do movimento planetário conhecidas como as Leis de Kepler. Iniciou seus estudos de teologia estudando grego com Martin Crusius, matemática e astronomia com Michael Maestlin com quem aprendeu a teoria de Copérnico, apesar de seu mestre defender o modelo geocêntrico de Ptolomeu.
Kepler revelou então uma extraordinária habilidade matemática. A sua fama foi tal que foi convidado a ensinar matemática no seminário protestante da Universidade de Graz, na Áustria, onde chegou em 1594 e ficou até 1600, quando se tornou ajudante do astrônomo Ticho Brahe em seu observatório em Praga. Seu trabalho, além de ensinar matemática, que se conectava com a astronomia, também incluía a posição de matemático e calendarista do distrito. A morte de Brahe, em 1601, fez com que ele assumisse seu cargo de matemático imperial e astrônomo da corte do imperador Rudolph II.
Como calendarista Kepler deveria prever o clima, dizer a melhor data para plantar e colher, prever guerras e epidemias e mesmo eventos políticos, além de instigar cuidados, disfarçados de prognósticos, para prevenir doenças.
Em 1597 publica seu primeiro livro Mysterium Cosmographicum (Mistérios do Universo) onde defende o heliocentrismo de Copérnico e propunha que o tamanho de cada órbita planetária é estabelecido por um sólido geométrico (poliedro) circunscrito à órbita anterior. Este modelo matemático poderia prever os tamanhos relativos das órbitas.
Os anos seguem e Kepler continua estudando as órbitas dos planetas, a luz e lentes e o olho humano. Em 1604 publica Astronomiae Pars Óptica, considerado o livro fundamental da óptica, onde explicou a formação da imagem no olho humano, como funciona uma câmara obscura, descobriu uma aproximação para a lei da refração, estudou o tamanho dos objetos celestes e os eclipses.
Em 1609 publica Astronomia Nova, o ápice de seus esforços para calcular a órbita de Marte. Este tratado contém a exposição de duas das chamadas leis de Kepler sobre movimento planetário. Segundo a primeira lei de Kepler (lei das órbitas), os planetas giram em órbitas elípticas ao redor do sol. A segunda lei de Kepler (lei das áreas), afirma que uma linha imaginária desde o sol a um planeta percorre áreas iguais a uma elipse durante intervalos iguais de tempo, em outras palavras, um planeta girará com maior velocidade quanto mais próximo estiver do sol.
Em 1611 publica no Dioptrice, seus estudos sobre as leis que governam a passagem da luz por lentes e sistemas de lentes, sobre o telescópio astronômico de Galileu.
Em 1612 com a morte do Imperador Rudolph II, aceitou a posição de matemático e professor do colégio distrital de Linz. Ali publicou seu Harmonices Mundi, em 1619, cuja parte final contém outra descoberta sobre o movimento planetário (3ª lei de Kepler), a relação do cubo da distância média de um planeta ao sol e o quadrado do período da revolução do planeta é uma constante e é a mesma para todos os planetas. É pensando na harmonia das esferas, na distância dos planetas entre si e em suas órbitas que Kepler vai tentar imaginar a música que Deus quis escrever quando criou o universo. Diferente de Galileu que via o universo como uma máquina, o grande relógio, Kepler via o universo como música e a posição dos planetas e seus movimentos como uma sinfonia escrita por Deus.
O inicio da Guerra dos Trinta Anos entre Reformistas Protestantes e a Contra Reforma Católica, marca um período de caça às bruxas na sua região natal. Sua mãe foi acusada de feitiçaria e torturada, foi condenada à fogueira. Kepler usa seu prestígio e talento no processo que se estendeu até 1621 para libertá-la.
Em 1626, as autoridades eclesiásticas de Linz consideram-no suspeito de heresia, selam a sua biblioteca e Kepler tem que deixar a cidade, partindo para Ulm, nas margens do Danúbio. Aí completou os cálculos relativos à posição das 777 estrelas observadas por Ticho Brahe, às quais acrescentou 228 observadas por si, terminando as Tabelas Rudolfinas.
Num inverno rigoroso, em viagem para Rogensberg, na esperança que pagassem o que deviam pelos seus trabalhos, Kepler adoece e acaba por falecer em 15 de novembro de 1630, aos 61 anos de idade.
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"Meus corpos celestes não eram o
nascimento de Mercúrio na sétima quadratura com Marte,
mas Copérnico e Ticho Brahe; sem suas observações,
tudo o que pude trazer à luz
estaria enterrado na escuridão"
J. Kepler.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Giordano Bruno (1548-1600)


Giordano Bruno foi um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano, condenado à morte na fogueira pela inquisição romana por heresia.
Defensor do Humanismo, corrente filosófica do Renascimento, cujo principal representante é Erasmo, Bruno defendia o infinito cósmico e uma nova visão do homem. Embora a filosofia de sua época estivesse baseada nos clássicos antigos, principalmente Aristóteles, Bruno teorizou contra eles. Sua forma e conteúdo são muito semelhantes à de Platão, escrevendo na forma de diálogos e com a mesma visão.
No século XVI a filosofia se liberta da religião, e a ciência moderna nasce da filosofia. A ciência não mais será a busca da verdade na propriedade lógica de conceitos, mas através das lentes de microscópios e telescópios. Bruno é a figura principal nessa transição: torna-se um filósofo independente e pressente que a verdade está para além do autoritarismo lógico dos filósofos escolásticos. Embora não seja um cientista, pois não era nem matemático nem astrônomo, dá prontamente crédito a Copérnico, um observador do céu e do movimento dos astros. Copérnico ousa contrariar a cosmologia das esferas celestes perfeitas do sistema aristotélico-ptolomaico que tomava a terra, "logicamente", como o centro do universo.
Sua idéia de que o universo era infinito, e que muitos mundos deveriam existir além daquele então conhecido foi uma das grandes idéias estimuladoras da ciência, durante o Renascimento. O seu livro "Sobre o Universo Infinito e Mundos" em que faz sua afirmação da existência de outros mundos povoados por seres inteligentes é ainda hoje um grande apelo para a imaginação de muitos. Sua técnica de classificação sistemática de objetos da observação no preenchimento de tabelas, suas tábuas combinatórias, foram os germes dos métodos empíricos que marcaram o início da ciência experimental.
Nômade por natureza e modo de vida, Bruno baseou sua filosofia apoiado nas suas intuições e vivências fora do comum. Defendeu teorias filosóficas que misturavam um neoplatonismo místico e panteísmo. Acreditava que o universo é infinito, que Deus é a alma universal do mundo e que todas as coisas materiais são manifestações deste princípio infinito.. Por isso Bruno é considerado um dos pioneiros da filosofia moderna.
Por estas opiniões quentes e perigosas para a época, Giordano Bruno foi condenado pela inquisição. Ao ser anunciada a sentença de que seria executado piamente (sem derramamento de sangue) disse: “Teme mais a Força em pronunciar a sentença do que eu em escutá-la.” Morreu na fogueira com tábua e pregos na língua, para parar de “blasfemar”.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Lutero e a Reforma Religiosa


Um evento fundamental na vida do monge agostiniano Martinho Lutero foi a viagem que fez à Roma em 1511. A escandalosa vida na corte pontifícia e o desolador espetáculo da venda das indulgências, o convenceram a iniciar um protesto que abalaria a Europa. Em 1517, ele afixou na porta de seu convento em Wittenberg as 95 Teses sobre as Indulgências propondo-se a discuti-las com seus coirmãos. No decorrer de poucos anos, o rompimento com Roma tornou-se irreversível e Lutero transformou-se no fundador da nova religião protestante.
Seus textos, colocavam em discussão a existência da própria Igreja, do clero e dos sacramentos, além da questão das indulgências; e desencadearam uma reação certamente superior às expectativas do próprio Lutero. O monge abandonou o hábito, casou-se com uma ex-freira e se dedicou ao esclarecimento das novas doutrinas teológicas, e também à tradução da Bíblia para o alemão, o que possibilitou a cada cristão ler em seu próprio idioma[1], e não apenas ouvir em latim, as palavras de Deus.
Para Lutero somente a leitura do evangelho é eficaz na manutenção e conservação da fé, que é o único caminho à salvação. O homem, teria duas dimensões: uma espiritual e outra corporal. E uma não influencia a outra. Atos, obras e comportamentos não influem na espiritualidade e podem muitas vezes ser hipócrita. Portanto, não são as ações mas, somente a fé, que conduz à salvação. Apesar de interiormente justificado pela fé, o homem não pode ficar ocioso ou praticar o mal, pois ele deve aumentar essa fé e essa suficiência até a outra vida. Enquanto ele permanece nesta vida corporal, deve governar seu próprio corpo. O homem deve agir bem, não para satisfazer a Deus, mas sim por que as boas ações são somente o fruto da fé interior. O corpo deve ser adestrado e exercitado para que se torne obediente em conformidade com o homem interior e com a fé. Boas e Justas ações não tornam jamais um homem bom e justo, mas um homem bom e justo pratica ações boas e justas; más ações não tornam jamais um homem maldoso, mas um homem maldoso pratica más ações.
De acordo com Lutero, a vontade humana não é livre. O homem deve escolher entre duas servidões: ou Deus ou Satanás. A história humana é a história destes dois cavaleiros a disputar entre si para ter e possuir o homem.
A reforma religiosa participou de modo decisivo do desencadeamento da revolução científica. Os reformistas pregavam que uma forma de se apreciar a existência de Deus era através das descobertas na ciência e por isso essas foram incentivadas, proporcionando uma propulsão ao desenvolvimento da revolução científica.


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[1] Depois que Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, diversas traduções foram feitas pela Europa no idioma local.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Maquiavel e O Príncipe

Escrito como carta ao herdeiro dos Médici, endereçada a Lourenço de Médici, tem por finalidade orientar o príncipe (seja ele Julio, ou Lourenço de Médici) em favor da libertação da Itália dominada pelos bárbaros. Nessa obra Maquiavel estuda a essência dos principados, suas espécies e como podem ser conquistados e conservados, bem como as causas de suas perdas.
As duas espécies de principados são os hereditários e os novos. Sem se deter nos hereditários, onde o príncipe recebe o poder sem grandes dificuldades, seu texto se preocupa com o principado novo no qual se encontra toda a dificuldade para sua aquisição e conservação. Estes ele subdivide em inteiramente novos e mistos (aqueles que são anexados aos hereditários). Outra subdivisão são os principados eclesiásticos onde afirma, com certa ironia, que é Deus quem os conquista e os conserva, e, portanto, estarão fora de sua análise. Enumera quatro maneiras de se conquistar um principado e outras tantas para como conservá-los ou perdê-los.
Conquista-se pela virtude, pela fortuna, pela perversidade e pelo consentimento dos próprios cidadãos. Para conservá-los o príncipe deve amedrontar, intimidar, constranger os vencidos para que eles silenciem. Deve ser forte e estar sempre suficientemente armado. Embora endereçada aos Médici, é César Bórgia quem o autor descreve como o tipo ideal de governante que a Itália precisa:
“Quem considerar necessário garantir-se em seus novos domínios contra os inimigos, fazer amizades, conquistar pela força ou pela fraude, fazer-se amado e temido pelo povo, seguido e reverenciado pelos soldados, destruir os que podem e querem ofendê-lo, inovar antigos costumes, ser bom e severo, magnânimo e liberal, suprimir a antiga milícia e substituí-la por outra, manter a amizade dos reis e dos príncipes de modo que tenham satisfação em assisti-lo, e medo de injuriá-lo, não poderia encontrar melhor exemplo que na conduta deste homem”.
Suas observações sobre como os grandes homens da época e da história enfrentaram o destino e moldaram, a partir de suas circunstâncias (as circunstâncias e as decisões tomadas diante das circunstâncias) sua própria sorte, faz de O Príncipe um marco do pensamento moderno. A política passa a ser uma realização humana, compreendida a partir da observação das relações. Defende a idéia de que a ação humana pode transformar e construir seu próprio destino. O destino do homem é obra do seu próprio talento, de suas virtudes.
A origem do poder deixa de ser divina e se encontra na força. O triunfo do mais forte é o fato essencial da história. Assim afasta qualquer preocupação de direito na aquisição. Essa verdade pode não ser agradável aos ouvidos, mas é uma constatação concreta da realidade, longe de qualquer divagação idealista ou irreal. Quem despreza o que se faz pelo que deveria ser feito, aprenderá a provocar sua própria ruína, e a não defender-se.
Maquiavel nunca diz que quer mudar a realidade, nem se propõe a isso. Busca na idéia de uma espécie de natureza da política que deve ser compreendida e aceita pelo príncipe, encontrar as virtudes necessárias para a conquista e manutenção do poder que seriam: a impetuosidade e a prontidão de espírito para compreender, aceitar as coisas (relações políticas) como elas são e não hesitar em agir.
Não há um critério moral que sirva de balizamento para as ações do príncipe. A única referência da boa ou má ação do príncipe é a eficácia na realização de seus objetivos ou não. Os fins justificam os meios. Em política não é correto fazer o que se quer, mas o que é preciso fazer.

domingo, 23 de maio de 2010

Erasmo de Rotterdam e o Elogio da Loucura


Desidério Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536) foi um dos humanistas mais ilustres de seu tempo. Diplomado em Teologia pela Universidade de Turim, foi ordenado padre, mas pediu e obteve a dispensa de usar hábito e de celebrar missas.
Seu texto mais conhecido, O Elogio da Loucura, foi acusado por muito de seus contemporâneos de antecipar a cisão protestante preparando terreno para a reforma de Lutero. Erasmo nunca deixou de criticar a decadência moral da Igreja renascentista e da corte pontifícia em particular. Acreditava no espiritualismo cristão, no espírito tolerante e no amor ao conhecimento. Para ele, milagres e superstições como o inferno, fantasmas e duendes são coisas de ignorantes. Critica a Igreja e sua hierarquia, critica monges, teólogos, bispos e o próprio Papa, que apóia guerras que são cruéis e desumanas. Critica o imposto que a Igreja cobra para não condenar as almas após a morte.
Em seu livro O Elogio da Loucura, apresenta a loucura como uma deusa que conduz as ações humanas. Identifica a loucura em costumes e atos como o casamento e a guerra. Diz que é ela (a loucura) que forma as cidades, mantém os governos, a religião e a justiça. Ele critica muitas atividades humanas, identificando nelas mediocridade e hipocrisia.
Com o início da Reforma, Erasmo preferiu não tomar partido, assumindo uma posição de neutralidade, mas depois de uma disputa de idéias com Lutero, acabou defendendo os católicos. Erasmo criticava igualmente a pretensão dos protestantes e a arrogância dos católicos.
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"Está escrito no primeiro capítulo do Eclesiastes:
O numero dos loucos é infinito.
Ora, esse número infinito compreende todos os homens,
com excessão de poucos, e
duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos".
Erasmo de Rotterdam

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Renascimento das ciências e das artes


O período chamado de Renascimento (séculos XIV a XVI) é marcado por uma profunda modificação social, científica, artística, na Europa.
A invenção da imprensa mecânica em 1439 desempenhou um papel fundamental nesta revolução, pois a impressão permitiu maior divulgação de material se comparado aos escritos em latim, que eram compreendidos apenas pelos estudiosos desta língua. A tecnologia começa a se aflorar nos campos da matemática, física, medicina. Nomes como Galileu, Paracelso, Gutenberg, dentre outros, começam a despontar, em razão das descobertas feitas por eles.
É neste contexto cultural que a visão antropocêntrica se instala e influencia todo campo cultural - O Humanismo – visão que propunha exaltar o homem e cultivar suas faculdades (racionalismo), mediante o ensino dos conhecimentos da Antigüidade — ou seja, da cultura greco-latina. O homem transforma-se no novo centro de reflexão intelectual.
Embora no princípio o amor pela Antigüidade se expressasse em cópias das obras antigas, pouco a pouco foram realizadas verdadeiras pesquisas científicas e artísticas que acabaram pondo em xeque toda a ordem estabelecida até então nessas áreas.
O significativo desenvolvimento urbano e comercial (iniciado no século XII) viabilizou a ascensão da burguesia. Daí, o surgimento de grandes patrocinadores culturais, os mecenas, com interesses intelectuais e econômicos.
Esse tipo de incentivo à arte tornou-se prática comum e vários governos valeram-se de artistas e intelectuais para melhorar a própria imagem. A burguesia e a nobreza, classes sociais que despontam no final da Idade Média, passam a dividir o poderio com a Igreja, levando a uma separação de religião e política, que transforma a última em uma ciência e as criticas à decadência moral da Igreja e da corte pontifícia ganham destaque nas obras de diversos autores, levando alguns até mesmo à fogueira.
Com os aparatos tecnológicos que surgiram nesta época (tais como e bússola e a pólvora), a antiga visão do mundo já não atendia mais às exigências e a religião em decadência precisava ser repensada. O mundo acordava de seu sono. O homem clamava pelo domínio sobre a natureza.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A Filosofia na Idade Média - parte final

São Tomás de Aquino forneceu a mais completa explicação filosófica desenvolvida até então da relação entre Deus e a humanidade; o seu tenaz intento de conciliar os valores da fé com os valores da razão, retomando uma abordagem aristotélica da filosofia, colocou-o em oposição a duas linhas de pensamento: a tendência místico-platônica – defendida na época pelos Franciscanos – e a crença dos chamados Averroístas que identificavam na doutrina de Aristóteles argumentos incompatíveis com a revelação cristã.
Para Tomás de Aquino, a verdade da fé cristã ultrapassa a capacidade da razão, mas os princípios naturais da razão não podem estar em oposição a esta verdade, pois os princípios que nos advêm por natureza nos foram incutido por Deus, sendo ele o autor da nossa natureza. Logo, a sabedoria divina também possui esses princípios. Assim, o que se opõe a tais princípios se opõe a sabedoria Divina e, portanto, não pode derivar de Deus. Pensar o contrário implica imaginar que Deus tenha intencionalmente enganado o ser humano, dotando-o de uma capacidade, a razão, aparentemente formidável e verdadeira, mas na realidade ilusória e em oposição ao resto da criação.
São Tomás ainda formulou provas lógicas da existência de Deus, explicou como os seres humanos e outras criaturas foram criados por Deus como derivações da perfeição divina, e como poderíamos retornar à unidade com Deus por meio de seu poder de nos assimilar e de nosso desejo por ele. Valendo-se dos conceitos e procedimentos lógicos aristotélicos, fazendo deles muito bem sucedido e influente uso, lança mão do conceito de causalidade de Aristóteles para concluir que tudo possui uma finalidade e essa finalidade está ligada a vontade de Deus. Deus é o primeiro motor de onde surgiram todas as coisas e é também o grande fim para onde todas as coisas se dirigem segundo a Sua vontade.
São Tomás de Aquino via a alma humana como a forma platônica do eu.
A ênfase na lógica aristotélica desencadeou um debate sobre se as idéias existem fora da mente ou se apenas não passam de nomes para as coisas. No final, esse debate trouxe de volta a filosofia ao contato com as coisas materiais e guiou-a para o Renascimento e a abertura para a ciência moderna.

quarta-feira, 31 de março de 2010

A Filosofia Medieval - parte 4

Enquanto as autoridades da Igreja procuravam em Platão sabedoria e discernimento, professores e acadêmicos das universidades muitas vezes voltavam-se para Aristóteles. Escolástica é a filosofia praticada nas universidades da Idade Média.
Baseia-se na lógica de Aristóteles, mas não em seu interesse em observar e testar as coisas. Isso acontece porque a filosofia escolástica recebeu no século X um grande impulso de vários filósofos muçulmanos. Esses filósofos redescobriram importantes textos aristotélicos e espalharam suas idéias entre os filósofos cristãos e judeus, como as interpretações da metafísica e da lógica de Aristóteles. São importantes os nomes de Avicena e Averróis na proliferação destas idéias e elas muito incomodaram as autoridades religiosas.
Enquanto Aristóteles foi um mestre de lógica, pode-se dizer que as coisas se arranjaram bastante bem. As complicações surgem a partir do momento em que são traduzidas para o latim as obras de ciência da natureza, biologia, ética, política, e filosofia geral do filósofo.
Mas a partir do final do século XII, eram tantas as traduções de Aristóteles, bem como de comentários gregos e árabes e toda uma literatura científica abrangendo obras de matemática, astronomia, ótica, medicina, alquimia, etc. que todo esse riquíssimo material vai desaguar em uma nova instituição que adquiriu maturidade no século XIII – a Universidade, uma espécie de corporação de ofício dos profissionais do estudo.
É nesse quadro institucional que os mestres ministrarão cursos (lectio – aula à base de comentário de texto), debaterão as questões em voga e responderão às consultas a eles dirigidas por príncipes, papas ou simples particulares.
O século XIII marca não só o amadurecimento da Universidade como também a descoberta de Aristóteles como O Mestre do Pensamento.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A Filosofia na Idade Média - parte 3


Harmonizando pensamento e misticismo, Agostinho de Hipona acreditava que o limite das pessoas era a medida de sua comunhão com Deus nesta vida terrestre. Segundo Santo Agostinho, o mais próximo que as pessoas conseguem chegar de Deus, será quando morrerem e forem para o céu. Somente no fim de nossa vida, poderemos experimentar a realidade divina sem estarmos presos à realidade física.
“O fato de não podermos experimentar Deus plena ou diretamente não significa que não devamos tentar compreender a verdade divina nesta vida”. A relação entre Deus e a alma humana é uma chave para o entendimento da verdade divina.
A fórmula agostiniana – “Entende para crer e crê para entender” –fornece, de renovadas formas, um quadro básico que permitirá aos medievais colocar a serviço da fé os recursos da cultura profana. Quer dizer, a fé não elimina a inteligência, não despreza a razão, não arruína o pensamento. É preciso entender – minha palavra – para crer; crê – a palavra de Deus – para entender.
Pode-se dizer que Agostinho forneceu aos medievais um ideal cultural, uma síntese doutrinal e uma orientação filosófica. O ideal cultural prefigura a atitude do cristão para com a sabedoria pagã: as verdades enunciadas pelos filósofos não devem ser temidas, mas reclamadas deles como de injustos possuidores. Coloca assim, a serviço da sabedoria cristã, sua cultura de retórico romano.
Mais importante ainda é a orientação filosófica de Agostinho. Ela (a filosofia) possui um valor positivo, pois é uma riqueza inesgotável, em cujo seio o espírito progride indefinidamente de luz em luz, sem nunca chegar ao fim, mas também sem deixar nunca de adquirir novas luzes.
“Procuramos, pois, como se fossemos encontrar, mas não encontraremos nunca, senão indo procurar sempre”.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Filosofia Medieval - parte 2

O neoplatonismo, como o pensamento religioso dava grande importância aos textos, considerando as palavras escritas especial, mágicas ou mesmo divina.
Estudando os textos, os filósofos esperavam apreender a unidade oculta para a qual as palavras apontam.
Essa fixação pelos textos escritos é uma das razões pela qual os filósofos medievais prezavam tanto os filósofos antigos. Em vez de criarem filosofias radicalmente novas, eles veneravam as já escritas e estabelecidas. Assim, muitos filósofos passaram a ver a filosofia grega como divinamente inspiradas.
Filo acreditava que mesmo as palavras da Bíblia não passam de aproximações da verdade. Desse modo, ele interpretou histórias da Bíblia como metáfora das idéias platônicas. Essa maneira de interpretar a Bíblia acabou influenciando profundamente os teólogos cristãos, que procuravam nos filósofos gregos elementos que apontassem para as crenças cristãs.
Essa forma de interpretação passou a ser conhecida como alegoria. Alegoria é uma forma de escrever em que o escritor lança mão de um conjunto de coisas, geralmente figuras concretas, para representar outro conjunto de coisas ou idéias que costumam ser mais abstrata.
Plotino costuma ser considerado o primeiro filosofo neoplatônico, embora suas idéias se assemelhem em muitos aspectos às de Filo. Ele elaborou o vínculo entre a unidade divina e os objetos materiais. Ele via os objetos materiais e as formas ideais como criações divinas. Para ele, o mundo é uma espécie de obra de arte, que expressa o ser divino. Essa explicação é conhecida como teoria da emanação.
A realidade emana do Um, o ser divino, como o calor emana de um ferro quente. Como o Um é uma espécie de artista, ou criador, podemos comungar com o ser divino por meio da arte e também por meio da meditação. Se conseguirmos perder de vista a diferença entre nós e as outras coisas, poderemos experimentar o Um.
Misticismo é o nome que damos a essa idéia e prática de atingir a unidade com Deus. Isso pode ocorrer em forma de sonhos e visões ou por meio da meditação e da criação artística.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Filosofia na Idade Média - parte 1


No período final do Império Romano e no decorrer da Idade Média, Deus estava em toda parte. As pessoas estavam convencidas da existência de um Deus único, todo-poderoso e justiceiro.
A filosofia no Ocidente e no Oriente Médio foi dominada por três poderosas influências: Platão, Aristóteles e a religião.
Filósofos judeus, cristãos e muçulmanos estavam reconciliando filosofia e religião – a razão com a fé.
Aristóteles, Platão e a religião forneceram um amplo arcabouço para a maior parte das idéias filosóficas da Idade Média que perdurou até o Renascimento, quando começou a ser gradualmente substituído pela ciência moderna.
Podemos distinguir nesse período três estilos de teologia caracterizados pelo instrumental intelectual mobilizado em vista da construção teológica:
- uma teologia sob o regime da gramática (século IX)
- uma teologia sob o regime da dialética (século XII)
- uma teologia sob o regime da filosofia (século XIII)
Um dos primeiros filósofos a combinar filosofia e religião foi Filo de Alexandria, que afirmou que o Bem ideal e Deus eram a mesma coisa.
Assim, Deus é como uma mente universal e as outras formas ideais, descritas por Platão, podem ser entendidas como os “pensamentos” de Deus – que dão ordem ao mundo material para que ele possa ser entendido pelas pessoas, cujas mentes são constituídas à imagem da mente divina.