sábado, 29 de agosto de 2009

Razão e Política




É no plano político que a Razão primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se.
A experiência social pôde tornar-se entre os gregos o objeto de uma reflexão positiva por que se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. Assim se destacou e se definiu um pensamento propriamente político, exterior à religião, com seus conceitos, vocabulário, princípios,e suas vistas teóricas.

Para o grego, o homem não se separa do cidadão e a reflexão é o privilégio dos homens livres que exercem correlativamente sua razão e seus direitos cívicos. Os gregos acrescentam assim uma nova dimensão à história do pensamento humano. Para resolver as dificuldades teóricas, a filosofia teve de forjar para si uma linguagem, elaborar seus conceitos, edificar uma lógica, construir sua própria racionalidade.

Os filósofos se questionam sobre a natureza do Ser e do Saber e quais são suas relações. Para o pensamento grego o mundo social deve estar sujeito ao número e à medida. Por isso a Razão se desenvolveu através de técnicas que dão meios para o domínio de outrem e cujo instrumento comum é a linguagem. Este pensamento marcou o homem antigo porque caracteriza uma civilização que não deixou de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana.

A Razão grega é a que de maneira positiva, refletida, metódica, permite agir sobre os homens, não transformar a natureza.
Dentro de seus limites como em suas inovações, a Razão é filha da cidade.

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adaptado de "As Origens do Pensamento Grego" J. P. Vernant

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

20 anos sem Raul Seixas


Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher,
A mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?


Vou te encontrar
Vestida de cetim
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo
Mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo Morte,
Morte, morte que talvez
Seja o segredo desta vida



Qual será a forma da minha morte
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas... um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal-aplicada
A vida mal-vivida
A ferida mal curada
A dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido
Ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota num dia de sol
A cabeça no meio-fio
Oh morte, tu que és tão forte
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com a tua mais bela roupa
Quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado
E que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem
E nos meus filhos
Na palavra rude que eu disse para alguém
Que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber
Aquela noite...



terça-feira, 11 de agosto de 2009

11 de agosto - Dia do Estudante



Paga mal a um mestre aquele que continua sempre discípulo.




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F. Nietzsche

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Idiota (F. Dostoiévisk)


- Será que realmente se pode ser infeliz? Oh, o que são a minha mágoa e a minha desgraça se eu estou em condição de ser feliz? Sabem, eu não compreendo como se pode passar ao lado de uma árvore e não ficar feliz por vê-la! Conversar com uma pessoa e não se sentir feliz por amá-la! Oh, eu apenas não sei exprimir... mas, a cada passo, quantas coisas maravilhosas existem, que até o mais desconcertado dos homens as acha belas? Olhem para uma criança, olhem para a alvorada de Deus, olhem para a relva do jeito que cresce, olhem para os olhos que os olham e os amam...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Diálogo


A.
- Estava eu doente? Agora estou são?
Quem foi o meu médico?
Como pude esquecer tudo!

B.
- Agora sim, creio que está são:
Pois sadio é quem esquece.
A.
- Ele para e escuta: o que o perturba?
Que coisa lhe zumbe aos ouvidos?
Que foi que o atingiu?
B.
- Como todos os que usam grilhões,
Em toda parte ele ouve - grilhões a tinir.

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F. Nietzsche - A Gaia Ciência