É no plano político que a Razão primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se.
A experiência social pôde tornar-se entre os gregos o objeto de uma reflexão positiva por que se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. Assim se destacou e se definiu um pensamento propriamente político, exterior à religião, com seus conceitos, vocabulário, princípios,e suas vistas teóricas.
Para o grego, o homem não se separa do cidadão e a reflexão é o privilégio dos homens livres que exercem correlativamente sua razão e seus direitos cívicos. Os gregos acrescentam assim uma nova dimensão à história do pensamento humano. Para resolver as dificuldades teóricas, a filosofia teve de forjar para si uma linguagem, elaborar seus conceitos, edificar uma lógica, construir sua própria racionalidade.
Os filósofos se questionam sobre a natureza do Ser e do Saber e quais são suas relações. Para o pensamento grego o mundo social deve estar sujeito ao número e à medida. Por isso a Razão se desenvolveu através de técnicas que dão meios para o domínio de outrem e cujo instrumento comum é a linguagem. Este pensamento marcou o homem antigo porque caracteriza uma civilização que não deixou de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana.
A Razão grega é a que de maneira positiva, refletida, metódica, permite agir sobre os homens, não transformar a natureza.
Dentro de seus limites como em suas inovações, a Razão é filha da cidade.
--------------------------------------------------------------------------------
adaptado de "As Origens do Pensamento Grego" J. P. Vernant