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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Maquiavel e O Príncipe

Escrito como carta ao herdeiro dos Médici, endereçada a Lourenço de Médici, tem por finalidade orientar o príncipe (seja ele Julio, ou Lourenço de Médici) em favor da libertação da Itália dominada pelos bárbaros. Nessa obra Maquiavel estuda a essência dos principados, suas espécies e como podem ser conquistados e conservados, bem como as causas de suas perdas.
As duas espécies de principados são os hereditários e os novos. Sem se deter nos hereditários, onde o príncipe recebe o poder sem grandes dificuldades, seu texto se preocupa com o principado novo no qual se encontra toda a dificuldade para sua aquisição e conservação. Estes ele subdivide em inteiramente novos e mistos (aqueles que são anexados aos hereditários). Outra subdivisão são os principados eclesiásticos onde afirma, com certa ironia, que é Deus quem os conquista e os conserva, e, portanto, estarão fora de sua análise. Enumera quatro maneiras de se conquistar um principado e outras tantas para como conservá-los ou perdê-los.
Conquista-se pela virtude, pela fortuna, pela perversidade e pelo consentimento dos próprios cidadãos. Para conservá-los o príncipe deve amedrontar, intimidar, constranger os vencidos para que eles silenciem. Deve ser forte e estar sempre suficientemente armado. Embora endereçada aos Médici, é César Bórgia quem o autor descreve como o tipo ideal de governante que a Itália precisa:
“Quem considerar necessário garantir-se em seus novos domínios contra os inimigos, fazer amizades, conquistar pela força ou pela fraude, fazer-se amado e temido pelo povo, seguido e reverenciado pelos soldados, destruir os que podem e querem ofendê-lo, inovar antigos costumes, ser bom e severo, magnânimo e liberal, suprimir a antiga milícia e substituí-la por outra, manter a amizade dos reis e dos príncipes de modo que tenham satisfação em assisti-lo, e medo de injuriá-lo, não poderia encontrar melhor exemplo que na conduta deste homem”.
Suas observações sobre como os grandes homens da época e da história enfrentaram o destino e moldaram, a partir de suas circunstâncias (as circunstâncias e as decisões tomadas diante das circunstâncias) sua própria sorte, faz de O Príncipe um marco do pensamento moderno. A política passa a ser uma realização humana, compreendida a partir da observação das relações. Defende a idéia de que a ação humana pode transformar e construir seu próprio destino. O destino do homem é obra do seu próprio talento, de suas virtudes.
A origem do poder deixa de ser divina e se encontra na força. O triunfo do mais forte é o fato essencial da história. Assim afasta qualquer preocupação de direito na aquisição. Essa verdade pode não ser agradável aos ouvidos, mas é uma constatação concreta da realidade, longe de qualquer divagação idealista ou irreal. Quem despreza o que se faz pelo que deveria ser feito, aprenderá a provocar sua própria ruína, e a não defender-se.
Maquiavel nunca diz que quer mudar a realidade, nem se propõe a isso. Busca na idéia de uma espécie de natureza da política que deve ser compreendida e aceita pelo príncipe, encontrar as virtudes necessárias para a conquista e manutenção do poder que seriam: a impetuosidade e a prontidão de espírito para compreender, aceitar as coisas (relações políticas) como elas são e não hesitar em agir.
Não há um critério moral que sirva de balizamento para as ações do príncipe. A única referência da boa ou má ação do príncipe é a eficácia na realização de seus objetivos ou não. Os fins justificam os meios. Em política não é correto fazer o que se quer, mas o que é preciso fazer.

domingo, 23 de maio de 2010

Erasmo de Rotterdam e o Elogio da Loucura


Desidério Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536) foi um dos humanistas mais ilustres de seu tempo. Diplomado em Teologia pela Universidade de Turim, foi ordenado padre, mas pediu e obteve a dispensa de usar hábito e de celebrar missas.
Seu texto mais conhecido, O Elogio da Loucura, foi acusado por muito de seus contemporâneos de antecipar a cisão protestante preparando terreno para a reforma de Lutero. Erasmo nunca deixou de criticar a decadência moral da Igreja renascentista e da corte pontifícia em particular. Acreditava no espiritualismo cristão, no espírito tolerante e no amor ao conhecimento. Para ele, milagres e superstições como o inferno, fantasmas e duendes são coisas de ignorantes. Critica a Igreja e sua hierarquia, critica monges, teólogos, bispos e o próprio Papa, que apóia guerras que são cruéis e desumanas. Critica o imposto que a Igreja cobra para não condenar as almas após a morte.
Em seu livro O Elogio da Loucura, apresenta a loucura como uma deusa que conduz as ações humanas. Identifica a loucura em costumes e atos como o casamento e a guerra. Diz que é ela (a loucura) que forma as cidades, mantém os governos, a religião e a justiça. Ele critica muitas atividades humanas, identificando nelas mediocridade e hipocrisia.
Com o início da Reforma, Erasmo preferiu não tomar partido, assumindo uma posição de neutralidade, mas depois de uma disputa de idéias com Lutero, acabou defendendo os católicos. Erasmo criticava igualmente a pretensão dos protestantes e a arrogância dos católicos.
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"Está escrito no primeiro capítulo do Eclesiastes:
O numero dos loucos é infinito.
Ora, esse número infinito compreende todos os homens,
com excessão de poucos, e
duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos".
Erasmo de Rotterdam